sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

[PT] Nação Descrente e Imoral

Vou, pela primeira vez neste blog, apresentar um texto em Português. Porque isto é, antes de mais, para Portugueses lerem.

Tenho vindo a acompanhar o lento declínio do nosso País no geral, em especial a nossa economia. Tenho assistido - mais de perto do que gostava - ao terror de ver famílias desalojadas e arruinadas, de ver as nossas mentes brilhantes a fugir do País como o Diabo da Cruz. Não estamos a perder só o nosso dinheiro. Estamos a perder a nossa energia, os nossos valores, o nosso valor, a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa existência e a expulsar - pela inércia, pela incompetência, pelo medo e pela preguiça - todas as nossas capacidades, entregando-as de bandeja ao estrangeiro.

Não se enganem, meus compatriotas. Portugal tem um potencial imenso por explorar. E, infelizmente, o pouco potencial que já está explorado, está a sê-lo pelo estrangeiro. Todos os dias perdemos um pouco mais de nós próprios e a nossa mesquinhez, a nossa avareza, a nossa inveja, o nosso egoísmo ainda nos torna mais fracos, frágeis e falíveis.

Dirijo uma instituição sem fins lucrativos que se orgulha do trabalho que faz, apesar de apresentar resultados muito lentamente. E porque é que nós apresentamos os resultados tão lentamente? Porque não há dinheiro. Não há dinheiro para um escritório onde nos possamos reunir e trabalhar. Não há dinheiro para equipamento apropriado. Não há dinheiro para todo o material que é necessário usar, gastar e destruir - sim, porque em engenharia, o material é destruído como parte do processo de desenvolvimento, as peças gastam-se, os materiais são usados, cortados, colados, pregados, juntos e transformados numa coisa melhor, ao contrário do nosso País. E, assim, somos "forçados" a trabalhar noutros empregos que não são tão convidativos à nossa vocação ou às nossas capacidades, mas é o que temos disponível. Temos contas para pagar, como toda a gente. E, no fim, retirando o tempo de refeições, de horas de sono num mínimo que se aproxime de saudável (e nem sempre a conseguir-se), do tempo de trabalho, do tempo perdido no trânsito ou à espera dos transportes públicos que, quando não é pelo trânsito, é pela greve que não chegam, sobra-nos um tempo miserável para nós mesmos. Tempo que dedicamos aos projectos que desenvolvemos e que, pela lentidão a que se desenrolam, não são, ainda, viáveis para tornar esta instituição em algo auto-sustentável fazendo com que não precisemos mais de outros empregos. Nós, também, queremos poder dedicar-nos a fazer algo que gostamos - projectos que se converterão em produtos que serão úteis para todos vós. Poderão salvar-vos a vida, a carteira e a paciência. Somos uma instituição com as pessoas, o projecto e a capacidade técnica e humana de criar, neste País, uma infraestrutura que irá criar 2500 novos postos de trabalho e 150 novas empresas a cada três anos e produzir tecnologia de ponta e produtos de indústrias criativas em quantidades mastodonticas. Sim, temos um projecto concreto que nos permite fazer a nossa parte para ajudar esta esquina da Europa. Só não somos uma instituição com dinheiro para tal. E ninguém quer que sejamos.

Nós somos um pequeno reduto de resistentes que se recusa - ainda - a abandonar este lugar que mais parece esquecido até pelos deuses de qualquer religião. Acreditamos no potencial do País. Acreditamos que o País tem os recursos (e os que não tem, pode gerá-los) e tem as pessoas para se tornar melhor. Mas, mais uma vez, são a preguiça, o medo, o egoísmo, a mesquinhez e a incompetência que inviabilizam tudo:
  • É a incompetência dos nossos governantes. Não que esteja a tomar partidos e quando digo "governantes", não falo só dos ministros. Falo de toda a pérfida Assembleia da República. Fala-se em deitar abaixo o Governo, demitir os nossos governantes, dissolver a Assembleia. Ridículo. O País não precisa de mais guerras partidárias. Não temos mais capacidade para suster discussões sobre dimensões penianas. A oposição tem que abrir os olhos, crescer, e ajudar o Governo a funcionar, em vez de sabotar todas as tentativas de resolução. O nosso Governo pode não estar a tomar o caminho certo - em muita coisa certamente não o terá tomado - mas a oposição não faz mais que sabotar qualquer hipótese de alguma medida resultar.
  • É o egoísmo e o medo de quem tem dinheiro. Não é novidade nenhuma nem é preciso ser-se um génio para saber que é em tempo de crise que mais se deve investir. Pois em tempo de crise cria-se riqueza para quando a salvo se consolidar. Mas é quando menos o fazem. Há quem tenha mais dinheiro do que alguma vez vai ter oportunidade de gastar e mesmo assim continue a amealhar. O dinheiro não desapareceu. A riqueza acumulou-se pontualmente em vez de estar distribuída de uma forma mais moderada e geradora de ainda mais riqueza. Os ricos esquecem-se que se não houver mais ninguém com dinheiro, o dinheiro deles também deixa de valer. E é isso que está a acontecer. É preciso investir. É preciso fazer circular a riqueza. Só assim se gera mais valor.
  • Não são as greves que vão ajudar a salvar o País. Cada greve é mais uma facada nas costas desta "Nação Valente e Imortal", que hoje em dia é uma "Nação Descrente e Imoral". As greves prejudicam é todos os outros. Não fazem nem uma dentada nas pessoas que têm que tomar decisões. Querem fazer greves, façam-nas, mas sejam focados. Não prejudiquem o povo, mas sejam assertivos contra quem querem lutar. Se estão contra as medidas tomadas por um determinado poderoso, então façam greve contra esse poderoso. Recusem-se a servi-lo. Recusem-se a negociar com ele. Recusem-se a fornecer-lhe bens, a fornecer-lhe serviços. Façam-no em escala, façam-no aos poderosos que o rodeiam. Mas não deitem mais abaixo o País. As greves, no estado em que o País está, só o vão enfraquecer mais. Infelizmente, esta Nação está tão de tanga que nem greves pode tirar da cartola sem se auto-mutilar. Cada greve nova só tem tido o efeito de nos afundar um pouco mais.
  • E é a preguiça e mesquinhez de muitos. É a falta de crença nas nossas capacidades. O nosso País já foi a nação mais poderosa do mundo e hoje está reduzido ao topo de todas as tabelas más e ao fundo de todas as tabelas boas.
Eu estou a ficar sem os meus melhores amigos, porque estão todos a ir embora - cá não têm hipótese de se sustentar. São pessoas, a maior parte delas, altamente qualificadas, ordens de grandeza acima de qualquer média e estamos a perdê-las para o estrangeiro. Isto é um ciclo vicioso. O País não consegue sustentar a nossa massa cinzenta e a nossa massa cinzenta não fica cá para ajudar o País a desenvolver-se e a criar condições para se sustentar. Alguns deles já foram há alguns anos e não pensam em voltar. Outros estão de malas feitas. Eu próprio já tive a minha experiência no estrangeiro.

Há soluções? Sim, há soluções. Subir os impostos não é uma delas. Renovar frotas automóveis das empresas estatais também não. Perder tempo e dinheiro a cada novo Governo eleito ainda menos. E criar fundações de orientação duvidosa certamente que não. Eu não posso salvar o País sozinho. A minha equipa não pode fazê-lo sozinha também. Mas toda a gente pode fazer a sua parte e, quanto a nós, não podendo salvar o País todo, podemos pegar no fio do novelo com o que temos em mãos.


Não se enganem. O nosso País tem a capacidade para criar a sua própria marca de carros utilitários, a sua marca de carros de super luxo, a sua própria marca de carros super desportivos. Tem a capacidade para construir navios de mercadorias, de passageiros, de luxo. De construir aviões de qualidade militar. Este país tem a capacidade criar a mais avançada tecnologia de ponta, de entrar no mercado dos telemóveis e roubar terreno a todas as outras marcas. Tem a capacidade de entrar no mercado do equipamento informático. Tudo de desenvolvimento e fabrico nacional, não anedotas como montagem de computadores fabricados na China ou Turquia que levam o selo de "Produto Português" só porque lhes meteram uma etiqueta cá. Este País tem a capacidade de se tornar uma super-potência de investigação nas áreas de medicina, biologia, engenharia. Tem a capacidade de se tornar um super-exportador.

Mas infelizmente, tendo tudo isto, também tem como decisores aqueles que não têm a capacidade de deixar que tal aconteça.

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